Monday, December 15, 2014

Comic Con Portugal pt 2

Como adenda ao post sobre a Comic Con, aqui vai uma boa crítica ao mini-comic do Hanuram que criei para ter à venda no Beco dos Artistas deste ano, pelo Nuno Pereira de Sousa, no seu blog Bandas Desenhadas.

Isto foi uma ideia de última hora, feita num dia e meio em vésperas da convenção, e o formato vem directamente de uma conversa tida com o colega e amigo David Lafuente sobre uns exercícios de auto-publicação de outro autor talentoso, JK Nimura, conversa que me deu milhentas ideias para futuros projectos.

Obrigado ao Nuno Pereira de Sousa pelo destaque ao meu trabalho.
Para quem quiser adquirir o mini-comic, haverá novidades em breve.

https://bandasdesenhadas.wordpress.com/2014/12/14/hanuram-the-golden/

Comic Con Portugal

Depois de dias a tentar sumarizar a minha experiência na edição de estreia da Comic Con Portugal, achei melhor aproveitar uma pequena entrevista que me foi feita pelo site aCalopsia.com, ao qual peço desculpas por ter respondido a tão concisas perguntas com verdadeiros testamentos sobre as minhas impressões do evento e o estado geral da BD portuguesa.
Normalmente, sou mais calado, mas há temas que puxam mais por mim que outros.

Assim, aqui fica a transcrição da minha parte no balanço que o aCalopsia fez da Comic Con.

Obrigado ao Diogo Campos e ao Bruno Campos pelo convite.


Segunda parte  de um “balanço” da Comic Con Portugal 2014, onde em que falamos com alguns dos autores e expositores (livreiros, editores) presentes na primeira edição do evento na Exponor.
As perguntas realizadas foram quatro:
  1. Quais eram as tuas expectativas para o evento e de que forma foram concretizadas?
  2. Como correram as tuas vendas?
  3. No teu entender, existem aspectos a melhorar no evento?
  4. Quais são as tuas expectativas para a próxima edição?

RICARDO VENÂNCIO, AUTOR

Ricardo é storyboarder e ilustrador tendo participado em diversas antologias de BD – kaBOOMboxvol.1, Racconti Indiani e Apocalypse Tarot da Passenger Press, Crumbs da Kingpin Books – além de ser ilustrador tendo já colaborado com a Criterion Collection onde ilustrou a capa de Zatoichi’s Flashing Sword. A sua obra pode ser acompanhada aqui. Ricardo participou na Comic Con Portugal na qualidade de artista tendo uma banca na Artists’ Alley juntamente com os ex-colegas do The Lisbon Studio e esteve presente no stand da Kingpin Books para autógrafos.
1À partida para a convenção, estava curioso em perceber como é que um modelo destes seria recebido pelo público português. Acho que não estamos habituados a um evento envolvendo BD que seja tão directo na abordagem ao público e ao aspecto comercial da indústria em que nos inserimos.
Mais concretamente, queria ver como corriam as coisas no Beco dos Artistas, que foi uma experiência que já tive noutros mercados e que eu aprecio particularmente por ser uma maneira excelente de criadores interagirem directamente com leitores do presente e potenciais leitores do futuro. Não há os filtros ou distanciamentos que existem nos lançamentos ou nas sessões de autógrafos nos stands das editoras, que têm o seu valor noutras vertentes.
Este modelo de ter autores com a possibilidade de estabelecerem mini-negócios, ajuda cada um, com maior ou menor experiência, a pensar como abordar o público, que imagem projecta cá para fora, que tipo de trabalho tem maior ou menor aceitação, e como diversificar a sua oferta, o que hoje em dia é cada vez mais importante, uma vez que domesticamente, e mesmo lá fora, o retorno financeiro no que toca a BD é claramente insuficiente, para não dizer quase inexistente.
E, queiramos quer não, este meio tem que ter tanto de Arte como de negócio, ou não vai evoluir para lado nenhum.
Nesse aspecto, esta edição confirmou-me várias ideias que tinha há anos. Nunca vi tanto público num evento deste tipo, em Portugal, como vi na Comic Con, sendo ou não impulsionada prioritariamente por vedetas de TV ou pelo Cosplay. Na minha opinião, o que interessa é chegar a um público cada vez maior, não me importa tanto como se chega a esse público.
No Sábado, que foi o dia com mais público, estar ali ou estar na Comic Con de Nova Iorque ou no Festival de Lucca era praticamente a mesma coisa, com a mais valia de poder estar a falar Português com quem passava na minha mesa.
E isso é o maior elogio que posso fazer ao fim de semana e à organização. Acho que há anos que se espera por uma razão para juntar vários públicos num evento deste tipo e a BD portuguesa só tem a lucrar com isso, se tiver a consciência de que tem que pensar para fora do seu público típico e não fechar-se constantemente, com o tem acontecido nos últimos anos.
Não quero dizer com isto que este modelo é infalível e que tem que ser emulado por todos daqui para a frente, todos os outros festivais e eventos relacionados com BD têm a sua razão de ser e o seu contexto, mas fazia falta um evento como este em Portugal.
Se tudo correr bem daqui para a frente e houver algumas lições a tirar de ano para ano, acho que a Comic Con complementará muito bem tudo o que se fizer nos eventos já existentes.
2Melhor do que eu esperava. Eu não sabia até que ponto o público português ia aderir a este tipo de “feira de autores”, mas eu e toda a gente com quem falei ficámos surpreendidos com as vendas e a disposição do público em encontrar coisas novas, de autores portugueses, de comprar, de saber como se faz, onde se pode encontrar, que planos cada um tinha para o futuro, etc.
Sem querer entrar num “rant”, eu venho dizendo há anos para quem me quer ouvir no meu círculo mais chegado de amigos e colegas que existe um público e um mercado aí fora de pessoas que só não se interessam porque as coisas não lhes chega às mãos. E a Comic Con, se não conseguiu fazer mais, pelo menos reforçou-me essa ideia.
Acho que já começámos a mostrar que temos talento para dar e vender, começamos a ver que temos público à espera de nos descobrir, só precisamos dos elos de ligação a funcionar e a expandir o alcance do que se pode produzir por cá, seja para vender dentro de portas, seja fora.
Este fim de semana acho que demos um grande passo nessa direcção.
3Claro que existem [aspectos que podem ser melhorados], foi a primeira edição. Eu não conheço primeiras edições infalíveis.
Eu estive em Lucca este ano, um evento mais antigo que o AmadoraBD em quase 20 anos, e no Sábado, era impossível andar pelas ruas da vila, impossível encontrar fosse o que fosse para comer sem filas intermináveis, impossível encontrar um WC sem esperar 20 minutos, por isso, como é que eu posso pedir a uma organização estreante que tenha um evento sem máculas?
Organizações destas são complicadíssimas, muitas vezes não dependem só de quem gere, e, sem termos de comparação no que toca a anos anteriores, é praticamente impossível prever exactamente como tudo vai correr. Mas mesmo em eventos mais antigos, acontecem filas e atrasos.
As adaptações e lições a tirar, tiram-se agora, para quem organiza e para quem visita.
Espero que a convenção se mantenha por anos suficientes para que essas lições [sirvam ] para que todos se habituem a planear com antecedência uma viagem anual a Matosinhos, tal como o fazem para ir lá fora.
4Pessoalmente, quero ver um Beco dos Artistas com o dobro do tamanho, pelo menos. Quero que todos os criadores que não quiseram ou não puderam arriscar no ano de estreia, que se decidam a participar e a mostrar o que se faz por cá para um público que quer descobrir coisas novas.
Quero descobrir autores novos, editados, por editar, com livros, webcomics, o que tiverem. Quero conhecer novos potenciais leitores e fazê-los querer saber mais sobre o meu trabalho e sobre o trabalho dos meus colegas lá presentes.
Quero conhecer criadores de fora, aprender processos diferentes, maneiras novas de abordar o meio e o trabalho em si.
Se possível, quero que o evento cresça e volte a ter problemas de filas, porque isso significa que as previsões mais optimistas voltaram a ser ultrapassadas e o público potencial é ainda maior do que suspeitamos.
E tirar daí novas lições.